Dicas

 

Ortografia e gramática

 

Verificar a adequação ortográfica e gramatical não significa somente passar o corrector.Há quem confie exclusivamente no corrector para se assegurar da ausência de erros linguísticos do texto, mas o “olhómetro” de um tradutor com ampla prática de leitura pode visualizar coisas que o corrector ortográfico não vê. Enfatizo a “ampla prática de leitura” porque é inegável que quem tem costume de ler bastante (textos de qualidade) tem também maior faro para detectar erros linguísticos e problemas relacionados.

 

 

Uniformidade terminológica

 

Às vezes, é até saudável traduzir um mesmo termo com mais de um equivalente em diferentes passagens de um mesmo texto, mas também é importante preservar a facilidade de compreensão do texto mantendo a uniformidade da terminologia usada. As ferramentas e seus sistemas de gestão de terminologia ajudam o tradutor na tarefa de controlar a uniformidade terminológica, impedindo que o tradutor traduza o mesmo termo de maneira diferente (desde, claro, que o tradutor tenha configurado a ferramenta). Mas as ferramentas não fazem nada além de seguir instruções humanas e, como se sabe, errar é humano. Portanto, uma verificação final “analógica” do texto traduzido, sem uso de ferramentas tecnológicas, pode ser bastante proveitosa e, quem sabe, revelar problemas inesperados.

 

 

Termos não traduzidos

 

Com o uso das ferramentas CAT, ficou cada vez mais difícil omitir termos na tradução, mas esse esquecimento ainda pode acontecer, principalmente em projectos que demandem muita rapidez do tradutor. Além disso, as ferramentas de controlo de terminologia só chamam a atenção do tradutor para determinados termos já registrados no banco de dados e pode ignorar os demais. Por isso mesmo não é recomendável confiar somente nos controle automatizados.

 

 

Fluidez e naturalidade

 

Quem usa ferramentas CAT traduz segmentos e se não tiver bastante concentração corre o risco de perder a visão geral do projecto durante a fase de tradução propriamente dita – a não ser que a ferramenta CAT tenha algum recurso de visualização em tempo real do resultado final da tradução (o memoQ, por exemplo, tem esse tipo de visualização). Traduzir de segmento a segmento pode levar à perda de fluidez e naturalidade da tradução. Por exemplo, os advérbios de ligação muito comuns no início de uma frase em inglês em muitos casos podem ser suprimidos em traduções para o português, para preservar a fluidez e naturalidade entre uma frase e outra. Mas fluidez e naturalidade revelam-se também na escolha de palavras harmónicas (por exemplo, ajuda muito recorrer a dicionários de sinónimos para escolher palavras com o mesmo sentido que tenham uma sonoridade melhor).

 

 

Fidelidade às intenções do autor

 

Este aspecto é extremamente subjectivo e demanda uma boa dose de interpretação e leitura de entrelinhas. Mas é absolutamente crucial, já que o sucesso da tradução depende de como o tradutor recria as intenções do autor no texto traduzido. Para verificar se a tradução é fiel às intenções do autor pode-se levar em consideração itens como adequação de estilo e ritmo do texto, recriação de associações e ideias abstractas e respeito à lógica das ideias apresentadas pelo autor. Nunca é demais lembrar que o tradutor não é autor do texto e deve ficar sempre na retaguarda, em vez de influenciar a tradução a ponto de tornar indistinguíveis o estilo e as intenções do autor.

 

 

Convenções tipográficas

 

Às vezes se esquece que em português não se faz um espaço antes dos dois pontos como no francês, nem antes do ponto de exclamação como no espanhol e muito menos se escreve uma palavra com letras maiúsculas depois de dois pontos como no alemão, a menos que ela seja um nome próprio ou início de outro parágrafo. Essas convenções tipográficas diferentes para cada língua devem ser levadas seriamente em consideração no controle de qualidade de traduções, sob pena de se criar uma espécie de texto “Frankenstein”, um híbrido entre idioma de partida e idioma de chegada. Algumas ferramentas CAT permitem uma verificação em tempo real da adequação às convenções tipográficas da língua de chegada, mas nunca é demais fazer uma verificação analógica, sem usar ferramentas.

 

 

Espaços a mais entre palavras

 

O controlo de espaços a mais entre palavras também pode ser feito em tempo real com algumas ferramentas CAT ou com um processador de texto. Além disso, depois que a tradução estiver pronta, pode-se usar um recurso como “localizar e substituir” para substituir dois espaços por um e repetir a operação até que não haja mais ocorrências de espaços a mais no texto. Só é preciso cuidado em casos em que os espaços a mais houverem sido introduzidos intencionalmente pelo autor (por algum motivo ligado à formatação do texto, por exemplo). O recurso de “localizar e substituir” deve ser usado com supervisão humana e não automaticamente.

 

 

Especificações do cliente

 

Muitas vezes, o cliente quer que determinado termo seja traduzido assim ou assado, pede atenção especial para determinada formulação, exige que determinado documento tenha uma quantidade máxima X de caracteres ou palavras etc. Todas essas especificações precisam ser respeitadas no controle de qualidade. Além disso, deve-se verificar se o formato final da tradução está de acordo com o que foi requisitado pelo cliente. Se o cliente enviou um arquivo PDF e pediu um arquivo DOC, não vale mandar um arquivo PDF só para se vingar por ele ter mandado o famigerado PDF.

 

 

Números

 

Lembre-se que nos números em inglês uma vírgula equivale um ponto no português, e vice-versa. E que em alemão suíço separa-se a casa dos milhares com um apóstrofo, que causaria estranheza se aparecesse em um texto em português (nesse caso, basta substituir o apóstrofo pelo ponto). Algumas ferramentas CAT fazem essa verificação dos formatos de números automaticamente e permitem que o tradutor configure os controlos necessários. Mas nada disso exclui a necessidade de uma verificação final com base no “olhómetro”.

 

 

Nomes de localidades geográficas

 

Atenção para Pequim, São Petersburgo, Berlim, nomes de ilhas do Pacífico, de países africanos e cidades da Itália, França e Suíça (muitas destas têm nomes aportuguesados). A tradução de nomes de localidades geográficas é um manancial infinito de armadilhas, pois nem sempre temos dúvidas sobre a grafia de um nome e acabamos cometendo um erro que não é detectado pelo corrector ortográfico. Portanto, na fase de controlo de qualidade de traduções, deve-se dar atenção dobrada à grafia correta (corrente ou oficial) de nomes de localidades geográficas, principalmente nos casos em que há uma grafia em português do Brasil e outra grafia diferente em português de Portugal. O mesmo, aliás, vale para nomes próprios de muitas figuras históricas.